O Observador

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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Exigências do MEC travam educação a distância em áreas isoladas

Divido com vocês um texto muito rico sobre nossa realidade educacional.

"O grande número de exigências do Ministério da Educação (MEC) para que universidades ofereçam cursos a distância inviabilizam a oferta nos municípios pequenos e isolados. A avaliação foi feita na 3ª Conferência sobre Educação a Distância — realizada entre 23 e 24 de junho, em São Paulo (SP) — pelo professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) José Manuel Moran, que coordena os polos de apoio presencial da Universidade Anhanguera .

“Com as exigências do MEC torna-se inviável oferecer educação a distância para aluno pobre em área isolada. É um problema para o atendimento dos menos favorecidos”, disse. Entre as exigências, as universidades devem construir polos de apoio presencial com um número mínimo de alunos, livros e laboratórios, que, segundo Moran, exigem investimento elevado e sem retorno.

“Se mantivermos esse modelo por mais dois ou três anos as instituições médias não conseguirão manter educação a distância”, comentou Moran. O MEC exige, por exemplo, biblioteca com um total mínimo de exemplares por alunos, laboratórios e um número base de professores e coordenadores. “Os cursos de saúde, por exemplo, são muito caros e não vão se sustentar sem um mix entre presencial e semipresencial. Ao contrário serão somente para a elite”.

Para o MEC, as exigências visam garantir que os alunos matriculados não sejam prejudicados. “Está mais do que provado que a educação a distância pode ser oferecida com excelência. Por isso, não podemos correr o risco de instituições ainda mal estruturadas ampliarem a oferta de vagas sem garantir os direitos dos estudantes”, disse o ministro Fernando Haddad, em entrevista ao Portal MEC.

O MEC exige que as avaliações sejam realizadas presencialmente na sede da universidade e não nos polos. Para Moran, a medida prejudica os alunos de áreas isoladas, localizados distantes dos centros. “Além disso, o peso mínimo da avaliação presencial é 80% e o resto das atividades só vale 20%. Não é pedagógico porque o aluno vai construindo o aprendizado, mas tudo será avaliado em uma prova”.

“Existe preconceito com educação a distância e todo preconceito é baseado em algo real. Há um receio de banalização do ensino e um pensamento que esses cursos são só para conseguir diploma”, comentou Moran. “Essa, porém, é uma visão elitista da educação. Cursos a distância permitem que aqueles que estão em áreas isoladas do Brasil também façam o ensino superior”.

É o caso da professora Patrícia dos Santos, que dá aulas de matemática para 57 alunos na escola da pequena comunidade caiçara da praia do Bonete, no município de Ilhabela (SP). Para chegar à vila só de barco ou por uma trilha de aproximadamente 15 km a partir do centro do município, que deve ser percorrida a pé.

A maneira que ela encontrou de aprimorar as aulas foi começar, em 2005, o curso superior de pedagogia a distância, que foi concluído em 2007. “Já tinha feito ciências contábeis presencialmente em São Sebastião, mas a maneira como dar aula aprendi na pedagogia. Antes eu me virava”, conta.

Como a comunidade não tem acesso à Internet, Patrícia acompanhava as aulas por material impresso. “Nós tínhamos apostilas e entregávamos os exercícios pelos Correios, quando algum morador da vila viajava para a cidade”. Uma vez por mês, na reunião dos professores das comunidades tradicionais na prefeitura, ela usava a sala virtual do curso.

“Para mim o curso presencial foi mais fácil, porque era mais simples esclarecer as dúvidas, e como temos pouco acesso à Internet foi mais difícil”. “Ao meu ver, tivemos um problema de orientação, principalmente no Trabalho de Conclusão de Curso”.

Dados do MEC mostram que um em cada cinco novos alunos de graduação no país ingressa em um curso a distância. O modelo tem mantido taxas altas de crescimento (50% ao ano, em média), enquanto o avanço da graduação presencial tende a se estabilizar (3,5% em 2008).

O Brasil tem 109 instituições que oferecem cursos de graduação a distância, das quais oito atendem a 416.320 alunos, o que representa 54,7% do total."

http://aprendiz.uol.com.br/content/uutrifriwr.mmp